domingo, 29 de julho de 2012

A VIDEIRA E OS RAMOS


A videira e os ramos


                                             A videira e os ramos


                 Jesus quase sempre ensinara mediante parábolas, que nada mais são que alegorias: linguagem figurativa que utiliza elementos do cotidiano evocando uma realidade superior. Jesus usava o próprio dia-dia terreno (vida secular) das pessoas para explicar-lhes o Reino de Deus (vida espiritual). Era justamente aí que residia a grandeza das mensagens de Cristo. Por meio de situações corriqueiras, o Mestre ensinava coisas espirituais. Suas palavras, mesmo que simplistas à primeira vista, estavam permeadas de alta carga valorativa. Falava de coisas profundas através das aparentemente superficiais. Atingia, assim, os pescadores, lavradores, prostitutas, religiosos, enfim, todos os segmentos da sociedade. E não só da sociedade da época, mas, também, todos os períodos históricos posteriores. Isso só é possível porque os ensinamentos de Jesus se projetam no tempo e no espaço, constituindo verdades universais e absolutas, e não, como querem alguns, verdades relativas apenas há seu tempo. Se assim fosse, Jesus teria sido mais um líder da história da humanidade, um homem dotado de grande retórica, eloquência e capacidade persuasiva, que atraía - para fins políticos - pessoas em torno de suas ideias. O povo judeu até que queria um líder que os libertasse do jugo do império romano, tal qual Moisés os libertara da condição de subserviência aos egípcios. Ledo engano. Jesus queria trazer uma libertação infinitamente maior. De todas as maravilhosas parábolas de Cristo, tenho predileção por aquela que fala da videira e dos ramos, pois essa parábola é uma das pilastras sobre as quais a libertação ensinada por Jesus se edifica. Trata da quebra das algemas do sistema religioso, denunciando a total libertação espiritual implantada por Cristo na nova aliança. Baseado no capítulo 15 do evangelho de João, tiramos lições essenciais para nosso relacionamento pessoal com Deus, para anunciar as boas novas aos perdidos, e para que todos compreendam alguns aspectos do Reino de Deus. Vejamos alguns versículos.

15.1. Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.
15.4. Estai em mim, e eu, em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.
15.5. Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podereis fazer.
15.7. Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiseres, e vos será feito.
15.8. Nisto é glorificado meu Pai: que deis muito fruto; e assim serão meus discípulos.
15.13. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a vida pelos seus amigos.

                 De uma meditação profunda nesses versículos - dentro do contexto do capítulo e do livro de João -, extraímos algumas lições:

1- Somos ramos de uma videira (Cristo) cujo lavrador é Deus. A Igreja (os santos espalhados na face da Terra) são ramos de uma videira, que é Jesus (o) Cristo. Essa videira, juntamente com seus ramos, é cuidada por Deus, o lavrador. Um ramo só tem vida enquanto está ligado à videira e, enquanto na videira, tem uma função: dar frutos. É o que ensina o próximo item.

2- Na condição de ramos de uma videira, temos de dar frutos, necessariamente. Se o ramo não cumpre sua função, podemos dizer que é inútil, não tendo mais razão de permanecer na videira. O fato de estarmos ligados à videira demanda de nós a realização de um único propósito: dar fruto. Mas que fruto?

3- O maior fruto de podemos dar é o amor. Em Gal. 5.22 encontramos uma lista de qualidades, ou seja, uma série de virtudes que o ramo deverá produzir como parte integrante da videira. Este modus vivendi se concretiza na vida do crente à medida que ele permite que o Espírito Santo dirija sua vida. Fruto, nesse caso, também significa resultado, consequência. Isto é, essas qualidades do nosso caráter são resultado e consequência da presença do Espírito Santo (simbolizando a videira). O rol de frutos é encabeçado pela "caridade”, que é o interesse e a busca do bem maior de outra pessoa sem nada querer em troca.

4- Amor significa dar a vida. Jesus ensinou que não existe maior amor do que dar a vida pelos amigos. Ele próprio deu sua vida preciosa e imaculada por nós. Quando Jesus disse em "dar a vida" talvez não estivesse se referindo somente em dar a vida (física), literalmente. Provavelmente Jesus estava se referindo ao fato de abnegarmos nossos interesses e aspirações seculares em prol dos perdidos. Isso também é dar a vida. É negar a própria vida, anular seus objetivos pessoais, relega-los a último plano e servir aos outros. Foi isso que o Filho fez. Primeiro despojou-se de sua glória e poder; depois, se fez carne, habitou entre nós, e colocou-se na posição menos importante: a de servo. Serviu aos pecadores, deu-lhes de comer, curou as feridas do corpo e da alma, compadeceu-se da prostituta, lavou os pés dos discípulos etc. Na cruz, antes de morrer, dentre outras coisas, perdoou o ladrão, perdoou a todos, fazendo-se pecado por nós. Morreu e nos reconciliou com Deus. O sangue derramado inaugurou uma nova, excelente e insubstituível aliança, que tem apenas dois mandamentos. De todo o pacto mosaico, de todo o sistema sacrificial, Jesus requer de nós apenas duas coisas: amemos a Deus sobre todas as coisas, e próximo como a nós mesmo. Amemos, pois. Sirvamos.

5- Quando alcançarmos essa convicção de amor pelo próximo, Jesus nos dará tudo o que pedirmos. A videira fornecerá a seiva suficiente para a produção dos frutos. A videira nos propiciará a capacidade de amar. Para que isso ocorra, porém, existe uma condição. João 15.7 ensina que se nós (ramos) estivermos em Cristo (a videira), e se Ele estiver em nós, pediremos tudo o que quisermos, e nos será feito. Esse versículo aponta uma relação de causa e efeito. Se estivermos em Cristo e Ele em nós (causa), seremos atendidos em tudo que pedirmos (efeito). Atualmente, algumas pessoas têm se apegado fortemente apenas ao efeito. Acham que Deus simplesmente vai conceder tudo aquilo que pedir. Acreditam, assim, que Deus está a serviço do nosso livre talante. Se Deus fizesse isso certamente nos corromperíamos. Tanto é que, em Tiago 4.3, Deus nos adverte dizendo que nós não recebemos aquilo que pedimos, pois pedimos para gastar nos nossos próprios deleites. Todavia, quando estamos em Cristo, tudo nos será concedido. Ora, se estamos em Cristo e se Ele está em nós, é porque somos um com Ele. E se somos um, temos as mesmas intenções que Ele tem. Estamos em harmonia. Aquilo que vamos pedir é exatamente aquilo que Ele queria nos dar. Se estivermos em Deus, pediremos coisas do alto, coisas espirituais, coisas para edificação: é justamente isso que Deus quer nos dar. É o próprio Deus (que está em nós) pedindo para Deus.

6- O ramo não pode dar fruto de si mesmo. Nós não podemos, apenas pela nossa capacidade, dar o fruto que Deus quer. Pelas nossas próprias forças não conseguimos amar o próximo, não conseguimos nos abnegar, não conseguimos servir. Somos pessoas más e egoístas, não conseguimos amar. Só poderemos amar se estivermos visceralmente ligados à videira. Se estivermos ligados em Cristo, pediremos que nos dê um coração cheio de amor, e Ele nos dará. Permaneçamos, pois, Nele.

7- Conclusão: somos ramos de uma videira. Devemos estar ligados a Cristo de tal sorte que, recebendo Dele toda capacitação, produzamos frutos desejos e nos tornemos uma árvore frondosa. E que as pessoas, vendo nossos frutos, tenham desejo insaciável de se alimentar deles. Arraigados em Cristo, nossos ramos vão crescendo, ganhando corpo, tomando espaço, gerando sombra. As pessoas virão e descansarão à sombra dos ramos robustos. Tudo isso sem sair do lugar, apenas permanecendo na videira..

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