“Senhor, eu sei que tudo podes; e que nenhum de
seus planos pode ser impedido.” Jo 4:2
Certa vez, eu conversava com um jovem senhor. Ele estava inconformado pela
morte de sua filha. Ela era uma jovem evangélica nova na fé, cheia de vida,
no primeiro ano da Faculdade de Direito. Numa manhã de domingo, ao retornar
da Santa Ceia, num Congresso de Jovem em que trabalhava como recepcionista
sofreu um acidente que lhe foi fatal. Seu pai, não conseguia conformar-se
de que Deus havia tomado-a para Si. Dias depois, após o culto, na porta da
igreja, o pai falava e chorava muito. Então... quando sem saber mais o que
dizer... creio que o Espírito Santo deu-me estas palavras: “Duro é para ti
recalcitrares contra os aguilhões” (At 26:14) – Essas palavras tiveram efeito imediato!
Digo isto por causa do espanto que pairou sobre ele naquele exato momento.
Então ele me disse: “Me explique melhor isto!” - Chamei meu esposo
que estava ao lado acompanhando indiretamente a conversa e pedi-lhe que
dissesse a mesma coisa, porém com outras palavras, de forma que elucidasse
melhor o entendimento. Imediatamente ele disse: “Duro é para ti dar murros
em ponta de faca.” – Confesso que estremeci com aquelas palavras, mas as
lágrimas pararam de rolar do seu rosto e também parou com as lamúrias,
queixas e reclamações contra Deus. Nunca mais ele nos procurou para falar
daquele assunto.
É muito triste perder um ente querido, mas quem pode se opor à vontade de
Deus? Às vezes passamos por momentos em nossas vidas que achamos de
tremenda injustiça, reclamamos e dizemos inconformados: “Senhor, eu não
mereço isso!” - mas, como entender a vontade soberana?
Meditemos no caso de Jó.
A Bíblia diz que Jó era um homem íntegro, reto, temia ao Senhor e se
desviava do mal. Embora sendo um homem rico que possuía servos e servas,
continuamente buscava a Deus para santificar a si e a seus filhos e o
Senhor se agradava dele. Mas Satanás não suportando ver a integridade de Jó
o acusou perante Deus: “Temes Jó a Deus em vão?” (Jó 1:19) – insinuando que seu temor vinha pela riqueza
que possuía afinal ele seria protegido e abastado. Por isso, Deus permitiu
que Jó fosse provado em tudo com exceção de sua alma. Tudo ele
perdeu, desde seus filhos, servos, até seus animais e toda sua riqueza. Por
fim, seu corpo foi tomado por chagas malignas desde a planta do pé até o
alto da cabeça. Mesmo assim, diz a Bíblia, que Jó não pecou, antes dizia: “Receberemos
o bem de Deus e não receberemos o mal?" (Jó 2:10).
Três amigos de Jó ao saberem do todo o acontecido foram até ele para
consolá-lo, porém mal puderam reconhecê-lo. Tal foi a tristeza que rasgaram
suas vestes, lançaram pó sobre suas cabeças e assentaram com ele na terra e
choraram por sete dias, pois viram que a amargura e a dor eram muito
grande. O quadro era desesperador. Acredito que Jó pensou que ao menos
tinha três amigos para consolá-lo, que poderiam ouvi-lo e ajudá-lo a
aliviar a sua alma, assim, lamentou muito o dia do seu nascimento. Mas não
foi bem assim... os amigos de Jó de maneira alguma puderam entender a
situação na qual se encontrava, antes procuravam o ‘motivo’ da sua falha.
Qual teria sido o seu pecado? Seus amigos o acusam e esperam que ele
confesse a sua falta para que assim haja perdão da parte de Deus para ele.
Quem sabe se eles não pensavam estar ajudando? Jó sabia que não estava em
falta, mesmo em vão, tenta justificar-se incessantemente: “Minha alma
tem tédio à vida; por isso darei curso à minha queixa, falarei da amargura
da minha alma” (Jó 10:1) e,
“Ainda que me mate, contudo nele esperarei; os meus caminhos defenderei
diante dele” (Jó 13:15). Veja
o que os amigos, inconformados pela não confissão lhe respondiam pelo seu
sofrimento, angústia e dor: “Será justificado este tagarela? As tuas
mentiras hão de fazer calar os homens? Zombarás tu sem que ninguém te
envergonhe? Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade”
(Zofar/Jó 11:1, 2 e 6b) – “O teu pecado
ensina a tua boca; adotas a língua dos astutos. A tua própria boca te
condena, e não eu; os teus lábios testificam contra ti.” (Elifaz/Jó 15:4 e 5) – “Até quando falarás tais coisas, e as
razões da tua boca serão qual vento impetuoso? Mas, se de madrugada
buscares a Deus, e ao Todo-Poderoso pedires misericórdia; se fores puro e
reto, certamente logo despertará em teu favor, e te restaurará a tua justa
morada.”(Bildade/Jó 8:2, 5,6).
Geralmente é sempre assim em momentos de provações: fogem os ‘amigos’ e
aumentam os acusadores, além dos risos, das chacotas e zombarias. Muitos
querem apontar-lhe o erro, mesmo que não encontrem, argumentam que têm de
haver faltas, desobediências ou pecados escondidos e não confessados que
justifiquem as provações.
Algumas pessoas parecem até alegram-se com a desgraça alheia. Até mesmo os
mais íntimos desaparecem... Quando Jó podia ajudar a viúva, o pobre, o
necessitado e fazer favores, não lhe faltavam companhias. Suas palavras
eram agradáveis como a de um sábio, sua presença para o anfitrião um motivo
de grande honra. Mas agora na provação, seu hálito era intolerável à sua
própria esposa, seus irmãos o repugnavam e até os pequeninos o desprezava.
Algumas pessoas usam determinadas palavras como verdadeiros amuletos, tais
como: “está amarrado!”; “O sangue de Jesus me proteja”; “está derrotado!”;
“O sangue de Jesus tem poder!” - entenda, sei que Jesus tem poder, mas
seríamos nós como bruxos, usando palavras mágicas? E o testemunho de nossa
vida não conta nada? Também sei que não é por mérito nosso que alcançamos a
misericórdia de Deus... mas, posso levar uma vida totalmente no erro e
fazer uso destas palavras mágicas e ser socorrida instantaneamente? Será
que é assim que Deus quer que o sirvamos? O Apóstolo Paulo tinha um
‘espinho na carne’, não sabemos exatamente o que era, mas era algo que o
incomodava, por isso orou três vezes para que o Senhor o livrasse disso.
Mas não foi esta a vontade soberana do Senhor, que antes o exortou: “minha
graça te basta (Paulo), pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (II Cor. 12:9). José foi odiado por seus irmãos, por isso,
vendido como escravo. Servindo na casa de Potifar foi acusado injustamente
e viveu encarcerado como um marginal por muitos anos. Deus permitiu tudo,
mas José não devia nada! Mesmo assim, não desfaleceu o seu temor à Deus que
no final o exaltou grandemente diante de todos, inclusive de seus irmãos,
tornando-o de escravo a governador do Egito, pois esta foi a vontade
soberana de Deus para a sua vida (Gn 37 a 47).
Abraão não podia ter filhos com sua esposa Sara e não ter filhos naquela
época era uma verdadeira maldição. Penso que as pessoas deviam apontá-los e
dizerem: ‘os deuses os estão castigando!...’ – mesmo o Senhor
prometendo que fariam deles uma grande nação. No tempo que aprouve a Deus,
Sara concebeu Isaque. Quando este era rapaz, o Senhor o pediu que o
oferecesse como um sacrifício num altar. Que estranho? Como podia ser isso?
O Gênesis nos conta que Abraão obedeceu, mesmo que aquilo contrariasse
totalmente as promessas de Deus para suas vidas, afinal, Sara já era idosa
e não poderia dar-lhe mais filhos... Bem, Abraão foi provado por Deus e
saiu aprovado e seu filho não foi sacrificado. Quando lemos a genealogia de
Jesus, está escrito: “Cristo, filho de Davi, filho de Abraão..”. (o
mesmo que dizer filho de Isaque), pois por Abraão foram benditas todas as
nações da terra. (Gn 22/
Mt 1:1, 2).
Muitas pessoas que levam uma vida totalmente desregrada consequentemente
acabam colhendo os frutos desagradáveis plantados ao longo de uma vida,
mais isso não é ser provado. Ser provado é ser acusado sem ter cometido
falta alguma; ser provado é não cometer falta alguma e ser condenado; ser
provado é não ter pecado contra alguém e ter que pedir perdão; ser provado
é ser odiado e difamado sem motivo algum e ainda ter que orar pelos que te
perseguem; ser provado é ser desprezado por aqueles a quem você ama; ser
provado é receber o mal pelo bem.
Jó tinha convicção de sua inocência, por isso insistia em justificar-se,
dizia ele: “Se eu falar, a minha dor não cessa e, calando-me, qual é o
meu alívio?” (Jó 16:6) – “O
meu rosto está vermelho de chorar, e há sombras escuras em redor de meus
olhos; contudo, as minhas mãos estão livres de violência, e a minha oração
é pura. Ó terra, não cubras o meu sangue; não haja descanso para o meu
clamor!” (Jó 16:16, 17)
Antes, Jó preferiria não ter existido, mas começou a observar que Deus
tinha um “propósito” em seu sofrimento ao observar que os ímpios que não
temiam a Deus envelheciam, prosperavam, estabeleciam as vossas
descendências, morriam fartos de dias e em paz, e que o castigo de Deus não
estavam sobre eles (Jó 21). No
entanto, a mão do Senhor estava sobre Jó, então dizia: “Sabei que Deus é
que me oprimiu e com a sua rede me cercou” (Jó 19:6) – “Eu sei que o meu Redentor vive, e que por
fim se levantará sobre a terra.” (Jó 19:25) – “Ah se eu soubesse onde encontrá-lo!
Então me chegaria ao seu tribunal”. – “Alí o reto pleitearia com ele, e eu
me livraria para sempre do meu juiz” (Jó 23: 3 a 7) – e por fim acabaram-se as palavras de Jó.
Observemos que mesmo após Jó calar-se continuaram as críticas, agora, por
parte de Eliú: “Jó fala sem conhecimento, às suas palavras falta sabedoria.
Oxalá fosse Jó provado até o fim por responder como os ímpios!” (Jó 34:36, 37). Jó já não respondia nada. Tanto Eliú, quanto
Zofar, Baldade e Elifaz tentavam falar sobre a sabedoria, porém, Jó falava
do íntimo do seu coração e do profundo de sua alma, eles não poderiam mesmo
compreende-lo, pois não podiam estar em seu lugar.
Queria Jó falar com Deus para justificar-se, porém, quando o Senhor lhe
respondeu, entendeu definitivamente de deveria calar-se. Disse o Senhor a
Jó: “Quem contende com o Todo-Poderoso, o ensinará?” – e Jó respondeu: “Eu
sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca. Uma vez
falei, mas não replicarei; duas vezes, porém, não prosseguirei.” (Jó 40: 1 a 5) – “Eu sei que tudo podes; nenhum dos teus
planos pode ser impedido. Com os ouvidos eu ouvira falar de ti, mas agora
te veem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza.”
(Jó 42:2, 5,6). Jó aceitou definitivamente a vontade
soberana de Deus em sua vida sem mais questionamentos nem justificativas, É
como se dissesse: ‘Faça-se em mim a tua vontade, agora e para sempre,
amém!’ Jó entendeu que na alegria ou na tristeza, na riqueza ou na
pobreza, com saúde ou enfermo, o melhor mesmo era estar sob as mãos divinas
de Deus. E qual não foi a surpresa! Era da vontade de Deus exaltá-lo
grandemente. Assim, repreendeu o Senhor os amigos de Jó e orando este por
seus amigos, aceitou o Senhor a sua oração e no momento em que orava, mudou
o Senhor o seu cativeiro. E deu o Senhor a Jó em dobro tudo o que
antes possuíra e abençoou o seu último estado mais que o primeiro. Em toda
a terra não se acharam mulheres tão formosas quanto às filhas de Jó, e o
seu pai lhes deu herança entre os seus irmãos (Jó 42:15).
Então morreu Jó, velho e farto de dias (Jó 42:17).
Foi da vontade do Senhor provar a Jó e também Paulo, José e Abraão.
Deus prova aquele a quem ama!
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