segunda-feira, 30 de julho de 2012

UMA FAMILIA DESMANTELADA


Uma Família Desmantelada


Texto bíblico - Jz.17

                Considerado um dos livros históricos, porque tem por finalidade a narrativa dos fatos ocorridos na história de Israel desde a instalação na Terra Prometida até os dias de Sansão, o antepenúltimo juiz de Israel, o livro de Juízes tem uma peculiaridade que o singulariza em relação aos demais livros históricos. Embora seja um livro histórico, em Juízes não há uma preocupação cronológica, como era de se esperar de uma obra com estes propósitos, tanto que, após ter narrado o trágico fim de Sansão, o seu autor passa a contar alguns episódios que não guardam qualquer correspondência cronológica com o período de Sansão, inclusive nem sequer se referindo à subida de Eli à função de juiz de Israel, do que ficamos sabendo somente no primeiro livro de Samuel. Com efeito, a partir do capítulo 17, o livro de Juízes narra episódios que estão desconectados cronologicamente da sequência vivida até o capítulo 16 e tudo leva a crer que os fatos ali narrados se deram no início do período dos juízes, ou seja, durante o período que havia sido narrado no início do livro.
São episódios que têm, entretanto, um alto significado para o propósito do autor do livro, que outro não é, como vemos estampado no capítulo 2 desta obra, que o de revelar a inconstância e a infidelidade de Israel a Deus no seu cotidiano, a despeito da fidelidade sempre presente e da constância do seu Deus. O primeiro dos episódios deste final cronologicamente desconectado do livro dos Juízes é o que nos chama a atenção neste instante e sobre o qual refletiremos um pouco. Diz o historiador que, na montanha de Efraim, havia um homem chamado Mica. É este o primeiro personagem a ser tratado neste capítulo, que se caracterizará por uma narrativa doméstica, destinada a nos mostrar o estado espiritual das famílias de Israel neste instante de sua história. De pronto, já vemos que a perspectiva do escritor sagrado é das mais elogiáveis e das mais avançadas em termos sociológicos, para nos utilizarmos de uma expressão do nosso tempo. Ao lado das peripécias e tormentas políticas vividas pelo povo de Israel, que denunciavam a fragilidade e inconstância espirituais do povo escolhido de Deus, o escritor sagrado não deixa de também vislumbrar a origem de todo este estado de coisas, voltando-se para a sociedade e, na sociedade, para a sua célula-mater, que outra não é senão a família. Todos nós já ouvimos e é fato notório que a família é à base de toda a sociedade (aliás, nossa Constituição o diz explicitamente no seu artigo 226), mas, apesar disto, comportamo-nos como se disso não soubéssemos. Embora seja dito e proclamado por todos que a família é à base da sociedade, dela não estamos cuidando, com ela não estamos nos preocupando e, lamentavelmente, tem ela alcançado níveis mínimos de prioridade na vida de milhões e milhões de seres humanos, inclusive os que servem a Deus.
O resultado desta postura é a desgraça vivida pelos lares na atualidade, desgraça esta que tem sido a fonte principal dos principais problemas existentes no mundo hoje em dia. Deus foi o criador da família, como bem sabemos. Ao decidir criar a mulher para que o homem não estivesse só (
Gn.2:18), Deus atestou, como autor daquela obra-prima, que era o homem, que este ser era um ser social e, como tal, para que alcançasse a sua plenitude, deveria viver em grupo, em sociedade, pois só assim, inclusive, poderia dedicar-se à sua maior tarefa, que era a de adorar a Deus e demonstrar, ao universo, o Seu grande amor. Sendo, pois, uma instituição criada por Deus e que serviria de garantia de cumprimento da finalidade maior do ser humano, certamente a família seria um dos principais alvos do inimigo do homem, do adversário, cujo trabalho não é senão matar, roubar e destruir (Jo.10:10).
Por este motivo, desde os primórdios da história humana, buscou desmoronar as estruturas familiares, pois, derrubada esta verdadeira parede de proteção criada por Deus para garantia da comunhão do homem com seu Criador, seu trabalho de destruição e morte fica sobremodo facilitado. Assim, que, já desde o início, quando da queda do primeiro casal, passou a haver uma desarmonia e uma desigualdade nas relações familiares, que foram se ampliando muitíssimo ao longo dos séculos.
A sociedade corrupta e violenta dos dias de Noé tinha como uma de suas principais causa a desagregação familiar. O próprio Jesus nos diz que, naqueles dias, as pessoas "casavam-se e dava-se em casamento" (
Mt.24:38), numa clara demonstração de que não havia respeito para com a instituição do matrimônio, como é a vontade de Deus (Cf. Hb.13:4), bem como havia uma liberalização excessiva dos costumes, a permitir esta triste situação. Aliás, já naquela época, a começar pela descendência de Caim, havia um total descuido com relação ao estabelecimento de padrões familiares aceitáveis diante de Deus, tanto que se adotara a poligamia, como nos dá conta Lameque (Gn.4:19) e da prostituição, pois, segundo a tradição judaica, este foi o caminho tomado por Naamá (Gn.4:22).Percebe-se, a partir desta civilização antediluviana, que o primeiro passo para a destruição das grandes civilizações na história humana, foi a derrocada dos laços familiares, pois a destruição da família faz com que toda a sociedade, não muito tempo depois, sucumba de forma irremediável.
Este sucumbir, aliás, não é meramente material, mas, e principalmente, espiritual, pois privado o homem desta rede de segurança e proteção que é a família, estará privado de qualquer educação espiritual e, portanto, será um alvo muito mais fácil dos ardis do adversário, que o levarão, inexoravelmente, ao mundo da iniquidade e da perdição. A desagregação familiar é o fator mais poderoso e condição necessária para que se tenha a derrocada de uma sociedade e a própria desestruturação tanto do indivíduo quanto do tecido social. próprio Deus, através de Moisés, não deixou de registrar que o fator que permitiria a continuidade do povo de Israel como um reino sacerdotal e uma propriedade peculiar de Deus dentre os povos (Cf.
Ex.19:5,6) seria a vida familiar, onde seria possível a transmissão, a todo tempo, dos mandamentos do Senhor (Dt.6:7-9), não tendo a sensibilidade do salmista deixado escapar que a fonte da destruição seria, exatamente, a falha nesta transmissão (Sl.78:1-8).
Muitos estudiosos dos problemas sociais veem, com razão, a má distribuição de renda, as desigualdades sociais, a pobreza, a má qualidade da educação de grande parte da população, entre outros, como importantes fatores para as mazelas sociais que vivenciamos, mas a desintegração familiar é, de todos, o fator mais importante e o que propicia, inclusive, o desenvolvimento de outros que levam às circunstâncias particularmente adversas que presenciamos. Este capítulo 17 do livro dos Juízes é uma verdadeira ilustração do que estamos a dizer. Mica morava na montanha de Efraim, lugar dos melhores da Terra Prometida, recentemente ocupada pelos hebreus. Era um local extremamente fortificado, cujos moradores se notabilizavam pela qualidade de seus carros de guerra (Cf.
Js.17:17,18), sendo um lugar de exuberante vegetação, chamada de bosque, isto em meio a uma terra desértica, como é a Palestina. Era, também, uma região de clima mais ameno, diante da altitude e que, portanto, combinava elementos plenamente favoráveis para uma vida material próspera e agradável. Mas Mica não só morava num lugar próspero, como também era de uma família próspera, pois é dito que sua mãe havia perdido mil e cem moedas de prata, uma das maiores quantias mencionadas na Bíblia que estivessem em poder de uma família comum, como era a família de Mica.
Lembremo-nos de que um bom escravo valia trinta moedas de prata (
Ex.21:32) e, portanto, a mãe de Mica perdeu uma quantia que permitia comprar trinta e oito escravos! Vejam, ainda, que isto foi o que a mãe de Mica pensou ter perdido, ou seja, a fortuna da família era bem maior do que isto. Vê-se, portanto, que a família morava num lugar bom e possuía uma condição econômico-financeira muito boa, mas, nem por isso, era uma família que pudesse ser tomada como exemplo para o país. Muito pelo contrário, ela é inserida nas Escrituras Sagradas exatamente para nos mostrar como uma família pode desencadear um mal eterno e perpétuo para um povo, mesmo um povo escolhido por Deus, como era Israel, precisamente por não se estruturar debaixo da Palavra de Deus. A família de Mica será a ilustração do escritor sagrado do livro dos Juízes de que não basta uma boa situação econômico-financeira, uma boa posição social, uma boa educação para que uma família seja bem estruturada e possa contribuir para a melhoria das condições de vida da sociedade, mas que o fundamento de uma família deve ser, sempre, a submissão à Palavra de Deus. Pois bem, percebe-se, de pronto, que, apesar de toda a situação econômico-financeira favorável, Mica era um ladrão.
Com efeito, as mil e cem moedas de prata que haviam se perdido, na verdade, diz-nos o texto sagrado (
Jz.17:17), haviam sido furtadas por Mica. Mica era, pois, um ladrão e não poupava sequer a sua mãe! Para Mica chegar a esta situação, a de ser um ladrão apesar de toda a sua boa condição econômico-financeira, havia de existir uma razão, um motivo determinante, pois isto não se dá à toa, sem qualquer motivo ou razão. Aliás, ensinam os estudiosos do direito penal, que não há crime sem motivo. O principal motivo de Mica ter se tornado ladrão foi a má performance de sua mãe no seu papel de educadora. Como podemos demonstrar que a mãe de Mica falhou na formação espiritual e moral de seu filho? Em primeiro lugar, vemos que a mãe de Mica, o segundo personagem que surge neste texto que estamos estudando, era uma mulher que não dava exemplo de serva de Deus. Com efeito, diz a Bíblia que, quando perdeu as moedas, não cansava de "deitar maldições" por esta perda (Jz.17:2). Ora, a Palavra nos ensina que a boca fala do que o coração está cheio (Mc.7:20-23) e, deste modo, se aquela mãe amaldiçoava incessantemente, a ponto de seu filho dizer que era o que ouvia de sua mãe constantemente (Jz.17;2), vemos que o coração daquela mulher estava cheio de maldade e de avareza. Triste é a família em que os pais, que são os sacerdotes do lar (aliás, a palavra lar é latina e designava, exatamente, o lugar de adoração na casa, bem como os próprios antepassados que eram adorados neste culto doméstico, os denominados "deuses lares", ou seja, é palavra que tinha como significado primeiro o de ser o aspecto espiritual da família), são os primeiros a ter seus corações cheios de maldade e de pecado, são os primeiros a indicarem, aos filhos, o caminho largo e espaçoso da perdição. Aquela mulher, em primeiro lugar, tinha seu coração cheio de maldade e de pecado, de forma que seu filho somente ouvia de sua boca maldições. Era isto que aprendia com sua mãe: a amaldiçoar, a desejar o mal para o próximo, a colocar seus bens materiais acima de todas as preocupações da vida. Lamentavelmente, este é quadro da esmagadora maioria das famílias em nossa sociedade, nos dias de hoje. Muitos não têm qualquer temor de Deus e demonstram isto aos seus filhos que, naturalmente, tendem a imitá-los e apreender o "modus vivendi" daqueles que são seus exemplos. Se os pais se conscientizassem quanto representam seus gestos e atitudes para seus filhos, certamente tomariam muito mais cuidados no seu cotidiano, no seu dia-a-dia, pois estas ações são captadas pelos filhos, ainda que de tenra idade (aliás, quanto mais tenra a idade, maior a captação destes exemplos, pois o juízo crítico estará menos desenvolvido e a imitação será mais automática), não havendo como, posteriormente, tentar-se incutir um outro "modus vivendi", pois o exemplo falará muito mais forte do que qualquer preceito ou ensinamento em contrário, ensinamento contrário este que ficará desmoralizado e que comprometerá a autoridade dos pais se não acompanhado do exemplo de vida do ensinador.
A mãe de Mica era uma pessoa costumada a amaldiçoar, a maldizer, a desejar o mal dos outros, preocupando-se com a vida alheia e nem sequer sabendo o que se passava na sua própria casa. Outra característica que percebemos na vida desta mulher é que, além de ter um coração cheio de maldade, era uma mulher muito preocupada com as coisas materiais e com a vida alheia, mas totalmente ausente na sua própria casa. Podemos afirmar isto porque a mulher resolveu amaldiçoar a tudo e a todos pelo desaparecimento de suas mil e cem moedas de prata, mas não se deu conta de que o ladrão era o seu próprio filho. Aliás, só o soube por que Mica, cansado de ouvir tantas maldições, resolveu confessar o crime para a sua mãe.
Isto demonstra que a mãe de Mica estava completamente alheia ao que se desenvolvia na sua casa e que nem sequer desconfiava de que seu filho era um ladrão. Um dos graves problemas que a família tem enfrentado nos nossos dias é, precisamente, a falta de comunicação entre pais e filhos. A vida corrida dos dias de hoje, a necessidade de a mulher ingressar no mercado de trabalho e a absorção do tempo restante pelos meios de comunicação (em especial, a televisão), fazem com que não haja sequer diálogo entre pais e filhos nos nossos dias, de modo que os pais são verdadeiros estranhos no acompanhamento do desenvolvimento das crianças e adolescentes. Esta dura realidade faz com que tenhamos muitas mães de Mica, pessoas que têm suas atenções voltadas para tantas e tantas coisas no dia-a-dia de nossa vida agitada, mas que não têm tempo para sequer travar uma conversa ou fazer uma brincadeira com seus filhos. O resultado é que os filhos se sentem sós e carentes de afeição e de carinho, não sentem o amor, a companhia que, como já dissemos supra, é essencial para o ser humano, que foi feito não para se sentir só, mas para ter companhia, não só a divina, mas também a do semelhante.
Este vazio que começa a ser criado é uma brecha gigantesca que se abre ao inimigo das nossas almas e que será preenchido pela idolatria incentivada e estimulada pelos meios de comunicação e pela indústria do entretenimento; pelo consumismo desenfreado, em que a carência e a própria omissão dos pais busca ser compensada pela posse de bens materiais e pelas mensagens satanistas de erotização (o despertamento precoce do desejo sexual, onde se buscará a afeição perdida), de banalização da violência e de disseminação das drogas. Urge que os pais, notadamente os que são servos de Deus, acordem, o quanto antes, para esta triste realidade, que tem sido um fator preponderante para a destruição das famílias e, por conseguinte, da nossa sociedade, de que a família é a principal célula.
A Bíblia ordena aos pais que instruam seus filhos, que os ensinem no caminho que devam andar, que sejam seus companheiros e amigos. Não é por outro motivo que Deus Se identifica como Pai no Seu relacionamento com os homens. Por que Deus Se identifica como Pai? Porque é um ser que pretende estar sempre ao lado do homem, em comunhão com ele, na sua companhia para sempre. É este o propósito de Deus para o homem (
Ap.21:3) e por isso Se identifica como Pai (ou como mãe, como se vê em Is.49:15). Cabe, então, aqui, uma incômoda questão para cada um dos pais que acompanha esta meditação? Temos sido um pai na acepção bíblica do termo ou temos nos comportado como a "mãe" de Mica? Mica havia crescido num ambiente avesso à realidade da Palavra de Deus. Sua mãe, ao invés de edificar a casa e de dirigir seus filhos no caminho da retidão, tinha seu coração cheio de maldade e de avareza, de forma que seu filho acabou apreendendo este péssimo exemplo e se enveredou pelo caminho da cobiça material, diríamos hoje, do consumismo desenfreado, passando a desprezar os mais elementares princípios morais, a ponto de furtar a sua própria mãe. Porém, cansado das imprecações e das "pragas" irrogadas por sua mãe, acabou confessando o delito e devolvendo as mil e cem moedas de prata para sua mãe. E aí vemos outra característica lamentável desta senhora, qual seja, diante da constatação nua e crua de que seu filho era um ladrão, a mãe de Mica nem sequer repreendeu seu filho, mas, bem ao contrário, diz-nos o texto sagrado, quis devolver o dinheiro ao filho (Jz.17:3).
Vemos aqui a que ponto chega alguém destituído de qualquer autoridade moral como era a mãe de Mica. Diante da confissão do delito por parte de seu filho, a mãe não só não o disciplinou como ainda ratificou o gesto errôneo de seu filho, decidindo devolver o dinheiro a ele. Um dos graves erros a que temos assistido nos últimos dias é, precisamente, a falta de disciplina nos lares, erro, aliás, que, perigosamente, já está se espraiando dentro das igrejas locais, como, de resto, em toda a sociedade.
A disciplina, ou seja, a correção dos erros exige, em primeiro lugar, que se tenha um disciplinador, ou seja, alguém que tenha autoridade tal que seja capaz de corrigir o próximo. A autoridade não vem apenas da posição ou da convenção de um determinado grupo social, mas exige, sobretudo, o que os cientistas sociais denominam de legitimidade, ou seja, do consentimento do grupo, do reconhecimento do grupo de que aquela pessoa está autorizada a utilizar o poder que decorre de sua posição. A legitimidade advém de uma prática que sustenta a posição ocupada, de uma vida exemplar, de atitudes que confirmem a investidura ocorrida em uma determinada posição. É a legitimidade que dá força e autenticidade ao exercício do poder de quem ocupa um determinado lugar. Foi a legitimidade que causou a admiração da multidão ao término do sermão do monte (
Mt.7:28,29), porque Jesus, ao contrário dos escribas e dos fariseus (Cf.Mt.23:2-4), vivia aquilo que ensinava, demonstrava com sua própria vivência a excelência da Palavra de Deus.
Reside aqui a grande dificuldade em se falar em disciplina nos dias de hoje, porquanto, cada vez mais, faltam entre os ocupantes das funções disciplinadoras, quem tenha legitimidade, quem tenha autoridade para disciplinar.
Não se está aqui, como alguns, querendo justificar a falta de disciplina pelo episódio da mulher adúltera, onde Jesus impediu a execução exatamente porque não havia ali quem não tivesse pecado, a não ser o próprio Jesus. Ali se tratava de uma condenação à morte e esta, mesmo, é algo que está além da capacidade humana, mas de disciplina, ou seja, de correção. Sim, a disciplina, ao contrário do que muitos têm entendido, não é uma ação senão de correção, não tem outro objetivo senão a restauração do errado. Trata-se de medida que tem como propósito apontar o erro mas com o objetivo de que o seu autor não volte mais a errar.
Entretanto, quase não mais existem aqueles que têm legitimidade para corrigir, pois, para que possamos corrigir, devemos dar o exemplo e são raros aqueles que podem fazê-lo. É na tolerância com as mínimas coisas erradas que praticamos e consentimos que seja praticado que solapamos a nossa legitimidade, a nossa autoridade e, por isso, não temos mais condições de disciplinar o próximo, notadamente aqueles que são colocados sob nossa responsabilidade (os filhos, os membros da igreja local sob nossa responsabilidade etc.), o que gera o atual estado de desordem e de destruição do tecido social dos nossos dias.
A mãe de Mica não tinha como disciplinar seu filho, que se revelara tão avarento quanto à mãe. A mãe de Mica não tinha como dar um conselho ao seu filho, de dizer que queria o seu bem, já que tanto o amaldiçoara. A mãe de Mica não tinha como dizer que sempre se preocupara com seu filho, já que nem sequer percebera que tinha sido ele o ladrão. Em suma: a mãe de Mica não tinha qualquer autoridade e, portanto, não havia naquele lar espaço para qualquer disciplina.
Sem disciplina, não se tem a plenitude do amor na família. Sem disciplina, não se sente a filiação. Sem disciplina, a destruição e a morte são certas.
Dirão alguns que a disciplina não resolve, pois os índices de violência doméstica estão aí a demonstrar que a busca da disciplina só gera revolta, trauma e que é mister um diálogo, uma convivência "de igual para igual" entre pais e filhos, uma real "democracia familiar". Entretanto, este ensinamento, baseado no adversário de nossas almas, é completamente errôneo e antibíblico. Quando se está a falar de disciplina, como já dissemos, estamos falando, antes de tudo, em autoridade legítima. Alguns, por não terem legitimidade, partem para a violência, para a força bruta, sendo tão errôneos quanto os que nada fazem, como a mãe de Mica. Não é o castigo, não é a violência que resolvem o problema, mas a legitimidade é ela quem confere autoridade. Destarte, a violência doméstica é também fruto da falta de autoridade, sendo tão somente a outra reação da autoridade ilegítima, mas o erro é o mesmo. Dentro das igrejas locais, aliás, temos também observado estes dois extremos lamentáveis no tratamento dos erros cometidos pelos irmãos. Ou se estabelece a permissividade ampla, com a total mistura dos membros com a iniquidade, ou, então, parte-se para a ignorância crassa, com o uso de mecanismos de violência, inclusive a humilhação e o desrespeito. Por que isto ocorre? Porque falta, hoje, legitimidade a muitos líderes, líderes que estão comprometidos com tudo, menos com Deus e com Sua Palavra. Que Deus nos guarde destas mães de Mica que estão, indevidamente, ocupando púlpitos e cargos nas igrejas locais!
Pois bem, a mãe de Mica não tinha qualquer condição de disciplinar seu filho e, por isso, acabou querendo compensar esta falta de autoridade e de amor com a entrega das mil e cem moedas de prata. Que incoerência! Amaldiçoou tanto pela perda da sua "fortuna" e agora resolve dá-las todas para o filho, o próprio ladrão! Mais um péssimo exemplo, mais uma demonstração de falta de autoridade!
Mica, que não podia ser senão desobediente, simplesmente não aceitou a "compensação" de sua mãe, que, então, ficou com as moedas mas perdeu, ainda mais, a sua autoridade. Não ajamos como a mãe de Mica, procurando compensar com dinheiro, com bens, com qualquer outra coisa, o amor que devemos dar a nossos filhos. Não há o que compre na terra o nosso amor para com os pais e, portanto, devemos, sempre, cumprir com o papel que a Bíblia reserva aos pais: amemos nossos filhos e, neste amor, ousemos discipliná-los, quando preciso.
Mas temos, ainda, ainda um triste defeito da mãe de Mica: a vida dupla.
Recusada à doação por Mica, sua mãe revela outra faceta de sua personalidade corrompida. Diz-nos o texto sagrado que a mãe resolveu dedicar integralmente as moedas para o Senhor e, assim, mandou que um ourives fizesse uma imagem de escultura e fundição (
Jz.17:4) . Esta afirmação da mãe de Mica bem demonstra que aquela mulher, como tantas outras nos seus dias (e nos nossos dias), tinha uma vida dupla diante de Deus. Falou em dedicação integral ao Senhor das moedas, mas usa apenas duzentas delas (eram mil e cem, lembram-se?) e para que? Para a elaboração de um ídolo, de uma imagem de escultura e fundição! Evidentemente, quando vemos uma afirmação desta natureza, observamos como se tratava de um rotundo absurdo, pois aquele gesto contrariava totalmente o segundo mandamento do Decálogo, que era, exatamente, o de não se ter imagens de escultura representativas de qualquer ser ou objeto existente nos céus e na terra (Ex.20:4-6).
Entretanto, para o "modus vivendi" daquela mulher, era algo extremamente natural, visto até como uma forma de se agradar a Deus, tamanha era a sua cegueira espiritual. Como é triste quando nos desviamos da presença de Deus e passamos a querer servi-lo segundo o nosso parecer e segundo os nossos conceitos. Rapidamente, afrontamos os mais elementares princípios divinos, precisamente porque O deixamos e passamos a satisfazer a nossa vontade.
A mãe de Mica pensou estar fazendo uma dedicação integral a Deus quando ofereceu apenas parte da quantia e, ainda por cima, para a elaboração de uma imagem de escultura e fundição. Muitos, nos nossos dias, têm o mesmo procedimento. Dizem estar integralmente dedicados a Deus, mas mantêm parte de sua vida longe do senhorio de Cristo. Dizem ser integralmente dedicados a Deus, mas ousam selecionar o que devem, ou não, seguir, das Escrituras. Dizem ser integralmente dedicados a Deus, mas querem fazer o que desejam, quando desejam e como desejam. São estes, assim como a mãe de Mica, nada mais, nada menos que idólatras! Podem até não ter mandado fazer uma imagem de escultura e fundição, mas por que não o mandaram fazer? Exatamente, porque já o fizeram, eles mesmos, em seus corações. E quem são estes ídolos? Eles próprios. O famoso "EU”, que se constitui no maior adversário de nós mesmos, tanto que o autor de conhecido cântico da Harpa Cristã diz que temos de vencer a nós mesmos nesta batalha contra o mal. A "dedicação integral" da mãe de Mica, na realidade, é dedicação nenhuma. Quantos daquelas mil e cem moedas de prata foram dedicados ao Senhor? Nenhuma! Portanto, a chamada "dedicação integral" não existia senão na auto justificação e na religiosidade vazia e hipócrita daquela mulher.
Sem um coração voltado para Deus, sem disciplina, sem amor, aquele lar não poderia senão ser um lugar de idolatria, senão um lugar dedicado aos ídolos e ao culto de falsos deuses. Percebemos que aquele lar não se tornou um centro de idolatria quando o ourives entregou a encomenda para a mãe de Mica, mas já bem antes disto, havia ali se dedicado aquele lugar para o culto a falsos deuses.
Bem antes da entrega da imagem de escultura e fundição, já se tinha o dinheiro como deus desta casa, como se percebeu, como já dissemos, pela própria conduta daquela mulher ao perder aquela quantia, como pela própria ganância e cobiça de Mica que o levaram ao furto daquelas mil e cem moedas de prata.
Bem antes da entrega da imagem de escultura e fundição, já se tinha a egolatria naquela casa, em que cada um agia conforme o seu parecer e a sua vontade, em total desatenção aos mandamentos do Senhor e de Sua Palavra.
Ah, como há diversas casas em que o Senhor é apenas citado nominalmente, talvez em orações mecânicas e automáticas (que são verdadeiras rezas), nas horas de refeição ou pouco antes das horas de dormir, mas onde, há muito, outros têm sido os verdadeiros deuses da casa! Ah, quantos lares ditos cristãos em que, na verdade, há muito o Senhor deixou de ser o Rei! Certa feita, ouvi um testemunho extremamente elucidativo, contado pelo saudoso pastor Vicente Guedes Duarte, um dos patriarcas das Assembleias de Deus no Brasil e pioneiro na missão desta denominação no Paraguai. Disse ele que, certa vez, tendo ido pregar em uma igreja, foi acolhido por uma família, onde se hospedou. Ao ali chegar, pôde ver, com grande destaque, na parede da sala, um quadro em que estava escrito: "Esta casa pertence ao Senhor".
Após o jantar, o saudoso ministro do Evangelho se recolheu para um merecido descanso, mas, para sua surpresa, não pôde dormir diante das inúmeras discussões e agressões verbais entre os membros daquela casa durante toda a noite, onde não faltaram insultos e até palavras obscenas. Logo ao amanhecer, o pastor fez sua mala e já foi saindo, quando, então, foi interpelado pelo chefe da família:
_ Pastor, já está indo embora tão cedo? Não vai nem esperar o café da manhã?
O servo de Deus respondeu-lhe:
_ Não, não posso esperar. Ao aqui chegar, vi na parede uma bonita inscrição, em que se dizia que esta casa era do Senhor, mas os irmãos não haviam me dito que a tinham alugado para o diabo. Até logo! Assim tem sido a triste realidade de muitos lares que se dizem cristã. Têm afirmado que suas residências são locais de adoração a Deus, mas nelas não se fazem mais cultos domésticos. Têm afirmado que seus lares são pedacinhos do céu, mas neles só tem havido iniquidade, porfias e demonstração de todo tipo de pecado. Têm dito que seus lares são verdadeiras igrejas, mas têm sido, lamentavelmente, vigorosas sinagogas de Satanás.
Quantos não têm até se recusado a entrar em algumas residências de pessoas incrédulas única e exclusivamente porque ali há ídolos, quando, em verdade, ídolos maiores, que não se podem destruir fisicamente, estão a povoar as suas próprias casas! Não foi no dia em que o ourives trouxe a encomenda para a mãe de Mica que aquele lar se tornou idólatra. Foi a partir daí que a idolatria se fez visível e palpável, mas, bem antes, o pecado e o maligno já haviam dominado aquela família.
Era uma família desmantelada, totalmente divorciada da Palavra de Deus e do genuíno culto a Deus. Era uma família totalmente alheia à vontade do Senhor, uma família visceralmente dominada pelo mal e escravizada pelo pecado.
Uma família desta natureza é uma chaga, é um mal não só para si e para seus membros, mas para toda uma sociedade. É sintomática que o escritor do livro dos Juízes comece a relatar o lamentável estado espiritual do povo naquele período da história de Israel a partir de uma família, uma família que causaria, posteriormente, como mostra à sequência do texto, a apostasia de um levita e de toda uma tribo de Israel, a tribo de Dã. É a partir da família que o trabalho do inimigo de nossas almas, que é roubar, matar e destruir, tem tido grande sucesso. A partir da família, ele não só destrói os seus indivíduos, como penetra seja na igreja local, seja na escola, seja na sociedade como um todo. Não nos esqueçamos de que as igrejas locais nada mais são que a reunião das famílias dos seus membros. Entrar na igreja local através da família é uma grande arma satânica nestes dias, mormente quando falta autoridade espiritual aos chefes de família. A mãe de Mica exterioriza toda a sua cegueira espiritual, toda a sua apostasia quando põe dentro de sua casa uma imagem de escultura e fundição, mera representação, não do Senhor, como afirmava, mas a representação de sua avareza, de sua maldade, de seu desamor, de sua falta de autoridade. Como um abismo chama outro abismo (
Sl.42:7), vemos que logo Mica progride este pecado de sua mãe e surge, como consequência disto, uma casa de deuses (Jz.17:5). Como afirma conhecido ditado popular, onde passa um boi, passa uma boiada. Feita a primeira imagem, logo se encarregou Mica, o desobediente filho, de construir uma casa de deuses. Agora, não era mais uma a imagem, mas havia várias imagens e, ainda por cima, fez Mica um éfode, ou seja, uma vestimenta sacerdotal. Percebamos que a egolatria continuava solta naquela casa. Apesar de todo o pecado, diante até da própria cultura religiosa israelita, era preciso, de qualquer modo, saciar aquele sentimento de ausência de Deus que existe em cada ser humano. Conhecedores da Palavra de Deus e da própria necessidade de servir e adorar a Deus, a família de Mica, ainda que desmantelada e apóstata, tinha de, alguma forma, fazer com que a religião estivesse presente naquela casa. Lógico, da forma e do modo queridos por eles. Era preciso saciar o "eu", o ego, que sentia falta de Deus, mas queria que Deus Se adaptasse a esses anseios e vontades advindos da autossuficiência. O adversário de nossas almas, sabedor da necessidade que o homem tem de encontrar Deus, busca, de todas as formas, impedir que haja o correto preenchimento desta necessidade e, portanto, tenta fazer com que o homem supra esta necessidade segundo os ditames da vontade do indivíduo. Assim, já que há um vazio que somente é preenchido por Deus, que este preenchimento se faça segundo ditames e regras estabelecidos pelo homem, por sua vontade. Entretanto, Deus não age assim, pois é Ele o Soberano e o Senhor de toda a terra. Tem interesse, por Seu grande amor, e salvar o homem e com Ele viver para todo o sempre, mas isto deve ser feito conforme a Sua vontade. Jesus diz que quem se sentir cansado e oprimido deve ir até Ele que Ele o aliviará (Mt.11:28), ou seja, o alívio será dado por Deus e somente por Ele, segundo as Suas próprias condições.
Querendo ter alívio segundo os seus parâmetros, querendo ter paz, bênção, prosperidade e comunhão com Deus, mas segundo seu pensamento, Mica e sua família constroem uma casa de deuses. Agora havia um compartimento especial da causa dedicado ao culto das mais diversas divindades e até uma vestimenta sacerdotal. É sempre assim: o engano, a mentira, a farsa tenta se parecer o mais possível com a verdade. O culto apóstata estabelecido na casa de Mica tinha até a aparência de um culto a Deus, mas não o era. Não nos esqueçamos de que tudo aquilo que ali estava sendo criado tinha como justificativa uma "dedicação integral" ao Senhor. Hoje em dia, muitos falsos cristos, muitos falsos mestres, muitos falsos profetas têm se levantado no mundo e atraído a muitos. Na aparência, assemelham-se muitíssimo aos verdadeiros e genuínos ministros do Evangelho. Suas prédicas e ensinamentos, sutis como as serpentes, muito se parecem com o verdadeiro e genuíno anúncio do evangelho. Entretanto, são falsificações! Tenhamos cuidado e não deixemos que a mentira nos engane que os prodígios e as aparências tenham o condão de nos levar à falsidade e à perdição. Como se não bastasse à idolatria desenfreada daquela família, a maldição chegava à terceira geração. Mica, diz o texto, consagrou um de seus filhos como sacerdote. Era a inclusão de mais uma geração na apostasia e no desvio espiritual. Deve-se, aqui, por oportuno, verificar que não se estava diante de qualquer "maldição hereditária", como alguns destes falsificadores da Palavra de Deus têm propalado nos últimos tempos. A salvação de Deus é individual e decorre do exercício do livre-arbítrio de cada um, não respondendo os pais pelos pecados dos filhos nem os filhos pelos pecados dos pais (Cf.
Ez.18:18-20). Entretanto, o que se observa aqui é que, quando os pais não cumprem com o seu dever de ensinar a Palavra de Deus aos seus filhos, transformam-se em poderosos agentes do adversário de nossas almas, ensinando o errado aos seus filhos que, por esta influência, acabam sendo, igualmente, induzidos ao erro. O ambiente daquela família desmantelada era francamente favorável ao pecado e ao erro e, diante deste ensinamento pecaminoso, tanto Mica quanto seu filho acabaram sofrendo um perverso processo de má formação moral e espiritual e, por causa deste processo, sem se falar na própria natureza pecaminosa de todo ser humano, acabaram se tornando idólatras inveterados. Era o resultado da péssima educação recebida. Depois da vestimenta, o sacerdote. Vemos como havia um interesse precípuo de fazer com que o culto apóstata se assemelhasse a um genuíno culto a Deus! Que esforço inútil! Que desperdício de tempo! Entretanto, o mal continuava a se irradiar através daquela família, já um poderoso instrumento de disseminação do pecado e da iniquidade. Chegaria, mesmo, a provocar a queda de um genuíno e escolhido homem de Deus. Como já dissemos, a família é o alvo predileto do inimigo de nossas almas, porque, através dela, o adversário atinge, a um só tempo, tanto os indivíduos que a compõem como a sociedade como um todo, pois, como se costuma dizer, é a família a “célula mater.” do corpo social, a base da sociedade, para, aqui, nos utilizarmos de expressão adotada pela Constituição brasileira. A partir do momento que a família se deixa envolver pelos laços do adversário de nossas almas, passa a ser um vigoroso instrumento para o trabalho do diabo, que outro não é senão roubar, matar e destruir (Jo.10:10). A família de Mica já havia cedido aos encantos do adversário e se tornara um centro de idolatria e, agora, seria um instrumento poderoso para a queda de um levita. Narra-nos o texto sagrado que, certa feita, um mancebo de Belém de Judá, da tribo de Judá, que era levita, peregrinava pela montanha de Efraim e, o que é importante para o nosso estudo em questão, diz-nos o texto que sua peregrinação tinha a ver com a busca de comodidade, ou, como nos diz a NVI, um lugar para morar. Vemos, logo de início, que este jovem também era uma vítima de uma má estrutura familiar. O texto nos diz que se tratava de um levita de Belém de Judá. Ora, em primeiro lugar, podemos observar que o jovem habitava numa cidade que não era destinada aos levitas. Como podemos verificar em Nm.21:13-16, Belém não era uma das cidades da tribo de Judá que haviam sido entregues aos levitas. Percebemos, portanto, que o jovem fazia parte de uma família que estava fora do lugar determinado para eles.
Levando-se em conta que os levitas tinham atribuições específicas relacionadas com o culto ao Senhor (Cf.
Dt.10:8,9), atribuições estas estabelecidas pelo próprio Deus, que havia escolhido a tribo de Levi em lugar dos primogênitos de Israel que lhe pertenciam desde o momento em que foram poupados na primeira páscoa  (Nm.8:14-18), vemos que o jovem era proveniente de uma família que estava desobedecendo à Palavra do Senhor, que não fazia aquilo que o Senhor lhe havia ordenado, que era “fazerem o serviço da tenda da congregação” (Nm.8:15). Os pais do jovem levita, com certeza, havia trocado a vida em alguma das cidades destinadas aos levitas, onde cuidavam de atividades relacionadas ao serviço da tenda da congregação, para algum serviço secular, muito provavelmente mais rendoso e que trouxesse um maior conforto e condição para a família, esquecendo-se, entretanto, que haviam sido separados por Deus para uma tarefa muito mais importante e relevante. É muito triste quando uma família santa, ou seja, que é separada por Deus do meio deste mundo tão tenebroso, resolve sair do lugar que lhe foi destinado e estabelecido pelo Senhor e passa a ter outras prioridades que não à de atender à vontade de Deus. Ela, simplesmente, se desmantela, se desfaz, não alcançando nem a tão sonhada prosperidade material, nem, muito menos, o que é muito mais importante, o agrado do Senhor. Vemos que este jovem, ainda moço, saiu de sua casa, sem destino, sem rumo, certamente porque os sonhos e os projetos de seus pais haviam falhado. Em busca de uma melhor condição material, econômico-financeira, a família saíra dos planos divinos e, agora, assim que pôde caminhar com suas próprias pernas, o jovem abandona seus pais e tenta aventurar-se pela Palestina, certamente porque haviam fracassado os intentos e os desígnios estabelecidos pelos seus pais. Nós, como servos de Deus, como pessoas por Ele separadas para atender ao Seu chamado (e todos os cristãos são chamados a serem luzes do mundo e sal da terra, indistintamente, exerçam, ou não, funções de governo na igreja), jamais nutramos a falsa ilusão de que podemos escolher, ao nosso talante, o que, onde e como devemos servir a Deus. É imperioso que nos limitemos a obedecer ao Senhor, permanecendo no lugar que Ele nos determinou, que Ele estabeleceu, se é que queremos ter uma vida familiar exitosa e abençoada. Belém de Judá, que viria a ser o próprio local de nascimento do nosso Senhor e Salvador séculos depois, não era o lugar em que os levitas deveriam estar e, por isso mesmo, o jovem não viu sequer uma esperança, sequer uma possibilidade de continuar ali. Neste aspecto, aliás, o jovem tinha mais visão que seus pais, lembrando-nos até uma canção da música popular brasileira, onde o compositor afirma que os mais velhos não querem, muitas vezes, enxergar o novo que está vindo com a evolução dos acontecimentos. O jovem levita entendeu que Belém de Judá não era o lugar de um levita e de lá saiu, agindo, neste ponto, sabiamente, como alguém que se apresentava como um homem separado por Deus para a Sua obra que estava disposto a tudo recomeçar. No entanto, por falha decorrente da sua própria formação deficiente e errônea, ao sair de Belém de Judá, o jovem estava animado por um sentimento que não deve ser o sentimento nutrido por alguém que é separado do mundo e escolhido de Deus. Diz-nos o texto sagrado que o jovem passou a peregrinar, a buscar um lugar onde tivesse comodidade, ou seja, onde pudesse satisfazer as suas necessidades materiais, onde tivesse conforto e riquezas. Embora tivesse percebido que Belém de Judá não era um local apropriado e adequado para ficar, o jovem, certamente influenciado pela educação recebida de seus pais, não pôde perceber que o mal de se estar em Belém de Judá não era a falta de recursos materiais, a dificuldade de emprego, o problema do sustento, mas, sobretudo, a inobservância da Palavra de Deus, o descumprimento dos mandamentos divinos, o desatendimento à vontade do Senhor. O jovem estava animado pelo mesmo propósito que fizera com que seus pais desobedecessem a Deus e deixassem uma cidade de levitas para tentar a sorte onde os levitas não haviam sido chamados. Assim como seus pais, passou a procurar um local onde pudesse garantir a sua sobrevivência, reduzindo a esta vida terrena, a posse de riquezas e recursos materiais a própria razão de ser da sua existência. Muitos têm agido desta forma nos nossos dias, dias de materialismo, de consumismo e de total menosprezo aos valores espirituais, dias onde o ter prevalece sobre o ser. Há muitos que, a exemplo deste jovem levita, passam a peregrinar nesta terra buscando tão somente alguém ou algo que lhes permita viver regaladamente, que lhes permita ter uma vida de opulência material e de benesses. Quantos não têm buscado Jesus única e exclusivamente porque querem ter prosperidade material, porque querem deixar uma vida de falências, miséria e dificuldades econômico-financeiras, para serem empresários bem-sucedidos, magnatas e pessoas ricas? A chamada “teologia da prosperidade” tem em vista, precisamente, este intento prevalecente na nossa sociedade, intento que não diferencia o seguidor desta prosperidade de qualquer outro indivíduo imerso no pecado e no mundo sem Deus. Afinal de contas, quem pode me dizer qual é a diferença entre alguém que passa a ser crente para enriquecer e outrem, que é um narcotraficante? Alguém poderá dizer: Não tem comparação, isto é um absurdo! Alguém que passa a servir a Jesus com intenção de enriquecer não desgraça a vida de ninguém, não causa mal a pessoa alguma, apenas aprende a exercer a sua fé e alcança as bênçãos já prometidas por Deus, enquanto que o narcotraficante enriquece a custa de vidas humanas, da destruição de famílias, de comunidades inteiras. No entanto, se bem observarmos ambos os comportamentos, veremos, claramente, que o que anima tanto um quanto o outro é o amor do dinheiro que, como Paulo disse bem claramente a Timóteo, é a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10). E quem garante que o “crente em busca da prosperidade” não destrói famílias, vidas e comunidades com seus gestos? Porventura, os escândalos que têm acompanhado esta pregação de prosperidade, as consequências que têm sido geradas pela conduta decorrente desta pregação não têm gerado angústias, decepções e descrédito para muitos e, o que é mais grave, sentimentos e emoções que têm gerado obstáculos praticamente intransponíveis à conversão de almas que, por causa disto, vão estar eternamente separadas do Senhor na eternidade? A intenção materialista do jovem redundou na sua transformação em um sacerdote idólatra e isto continua ocorrendo até os nossos dias, pois as Escrituras dizem, claramente, que a avareza nada mais é do que idolatria (Cl.3:5). Devemos servir a Deus com a intenção de agradá-lo, de fazer a Sua vontade. Assim nos ensinou o Senhor quando nos deu a lição da oração: “Seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu”. Devemos, sempre, fazer aquilo que agrada a Deus, que seja a Sua vontade. Nosso objetivo nesta vida deve ser sempre o de estar no centro da vontade do Senhor. Nunca devemos fazer como o jovem levita, que vivia atrás da comodidade, atrás do regalo, das vantagens materiais, do bom salário, das benesses, do “bem-bom”. Quais têm sido as nossas prioridades? Como temos vivido sobre a face desta terra? Este assunto da comodidade é vasto e comportaria um estudo específico, razão pela qual nele não nos deteremos, mas fica aqui o convite para que reflitamos se não estamos, em nossa peregrinação nesta terra, agindo com os mesmos propósitos daquele mancebo levita. O certo, para o tema que estamos desenvolvendo, é verificar que o jovem estava animado por um intento reprovável, mas que havia sido incutido em sua mente e coração pelos seus próprios pais. Se o jovem não viesse de uma família de levitas que havia desobedecido a Deus e ido morar numa cidade que não havia sido reservada para a tribo de Levi, como era Belém de Judá, se o jovem não tivesse nascido num lar onde o mais importante é a própria satisfação e não a obediência à lei do Senhor, certamente que não teria elegido a comodidade como valor a ser buscado, a qualquer preço, a qualquer custo, na sua vida. Os pais têm de estar conscientes de que serão eles os indutores de comportamentos, de condutas em seus filhos. A Bíblia, ao falar sobre a influência dos pais sobre os filhos, usa de uma expressão que, já no meio do povo de Israel era um provérbio de amplo conhecimento popular. Em Ez.16:44, afirma que “qual a mãe, tal é a sua filha”. Sem dúvida alguma, a influência que os pais exercem sobre os filhos é imensa e predetermina boa parte da conduta dos filhos no futuro, a ponto de o sábio Salomão ter dito que, se instruirmos nossos filhos no caminho do Senhor, ainda quando velhos eles jamais se esquecerão dos ensinamentos que receberem. O fato é que, como diz o vulgo, “quem procura, acha”. O mancebo tanto buscou comodidade que, num belo dia, chegou à casa de Mica, à casa dos deuses e ali parou. Ao chegar à casa de Mica, o jovem, já deturpado em seus intentos pela má educação recebida, passa a receber influência da igualmente péssima educação que havia na casa daquele homem, como já vimos neste estudo. O jovem, diz-nos o texto sagrado, seguia o “seu” caminho (Jz.17:8), ou seja, mais uma vez notamos, aqui, a influência deletéria da educação de seus pais que, num gesto de inobservância da Palavra de Deus, haviam deixado de seguir o caminho do Senhor, deixado de morar no lugar designado por Deus e resolvido, por sua própria conta e risco, morarem em Belém de Judá, fazendo o “seu” caminho. O jovem também havia aprendido assim e estava ele, nas montanhas de Efraim, buscando o “seu” próprio caminho, tomando conta da “sua” vida, sendo dono do “seu” próprio nariz. Vivemos um tempo em que se propala aos quatro ventos a mensagem de que os jovens devem buscar os “seus” próprios caminhos, que não podem, de forma alguma, seguir os conselhos, recomendações e orientações de seus pais, tachados pela mídia e por esta linha de pensamento como “atrasados”, “quadrados”, “caretas”, “retrógrados”, bem como responsáveis por todas as mazelas, maldades e injustiças que existem sobre a face da terra. Até mesmo dentro das igrejas locais, este pensamento, que tem origem no próprio adversário de nossas almas, que foi aquele que primeiro convenceu o homem a tentar se desprender de Deus, lá no jardim do Éden, trazendo a mensagem da autossuficiência e da independência em relação a Deus, a mais antiga mentira que é contada pela antiga serpente à humanidade. Esta era a situação deste jovem que, mal formado, mal educado, passa a buscar algo que não é o que Deus requer de nós, muito menos para aqueles que Ele escolhera para o Seu serviço, como era o caso do levita, que, agora, fazendo o “seu” caminho, chegava ao último lugar onde deveria estar um servo de Deus: numa casa de ídolos. Ao chegar à casa de Mica, o jovem recebeu uma oferta daquele idólatra, a fim de que se fizesse pai e sacerdote da sua casa, mediante um salário anual de dez moedas de prata (a versão NVI traduz esta medida por cento e vinte gramas de prata por ano), além de suporte de todas as despesas com vestuário e alimentação. Ora, era tudo o que o jovem queria: comodidade! Um bom salário, roupa e cama lavada e comida à vontade! Quem recusaria uma oferta destas nos nossos dias? Certamente que muitos jovens, mormente num ambiente de desemprego como o que vivemos e que só tende a se intensificar conforme as tendências observadas na economia mundial, não hesitariam em fazer o que fez aquele jovem, que, prontamente, aceitou a oferta e passou a ser “pai e sacerdote” da casa de Mica. Este é o principal problema de termos intenções desvirtuadas e não condizentes com o que nos ensina a Palavra de Deus. O jovem era movido, em sua peregrinação, pela comodidade, pelo bem-estar material e disto tinha pleno conhecimento o adversário de nossas almas que, embora não seja onisciente, tem a seu serviço, como bem retratou um escritor evangélico, o “mais eficiente serviço de espionagem” do mundo. Com efeito, se os mais poderosos governos do mundo têm acesso a uma gama enorme de informações, praticamente sabendo tudo o que se passa no mundo (basta ver que, no episódio dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, as investigações apontam que não houve falta de informações por parte das agências de inteligência norte-americanas, mas, pelo contrário, falhas na apreciação das informações obtidas), por que o diabo, que têm a seu serviço milhares e milhares de anjos caídos, não teria condições de saber quase tudo o que se passa na humanidade? Como dizíamos, sabendo das intenções do jovem, não foi difícil ao adversário dar o laço final na vida do incauto, mediante a oferta para que se tornasse “pai e sacerdote” da casa de Mica. Observemos que todo levita alimentava o sonho de ser sacerdote, porquanto, embora pertencesse à tribo de Levi e cuidasse de todo o serviço da tenda da congregação, se o levita não fosse da família de Arão, de forma alguma poderia ministrar, poderia ser separado para o sacerdote. Assim, todo levita ficava muito próximo ao sacerdócio, mas dele não poderia tomar parte. Esta frustração, aliás, foi o móvel da mais dura rebelião enfrentada por Moisés no deserto, a rebelião de Coré, que encontrou guarida, precisamente, nesta frustração da tribo de Levi, bem como da frustração da tribo de Rúben, que, afinal de contas, era o filho primogênito de Jacó, mas que havia sido alijado das benesses da primogenitura. O jovem foi convidado para ser aquilo que todo e qualquer levita almejava ser, mas que Deus não havia determinado que fosse. Um dos grandes ensinamentos que devemos dar em nossas famílias diz respeito, precisamente, aos limites que temos como seres humanos.
É indispensável que ensinemos aos nossos filhos que não somos os donos do mundo nem que a nossa vontade prevalece em todas as situações da nossa vida. Muito pelo contrário, devemos, em primeiro lugar, fazer à vontade de Deus, esta, sim, a única vontade soberana, a única vontade que sempre prevalecerá e, depois de estarmos no centro da vontade de Deus, sabermos que temos a liberdade para agir naquelas coisas e que Deus aprova ou deixa à nossa escolha. A Bíblia registra-nos o triste caso que envolveu Adonias, o filho de Davi, que se tornara o seu primogênito após a morte de Amnom. O príncipe israelita, diz-nos as Escrituras Sagradas, nunca soube o que era um “não” de seu pai (
I Rs.1:6). Adonias viveu sem qualquer limite, sem qualquer orientação, achando que sua vontade deveria sempre prevalecer, o que era um desastre para alguém que, pelas regras normais de sucessão, deveria suceder ao pai no trono de Israel. O resultado disto foi que, num belo dia, resolveu Adonias tomar conta do trono, ainda antes da morte de seu pai, que já se encontrava enfermo e próximo à morte. Sem limites, sem respeito e consideração para com seu pai, acabou, por causa disto, não só perdendo o trono como também a sua própria vida, pois, assim que Salomão assumiu o trono, uma vez mais manifestou a sua impertinência e ousadia irresponsável, o que lhe custou à própria morte. Temos ensinado limites aos nossos filhos? Têm eles sido ensinados que nem tudo é como queremos nesta vida? Têm eles visto em nós uma submissão à vontade de Deus? Aquele pobre jovem levita não sabia o que era isto e, ao lhe ser dada uma oferta de algo que, pela vontade divina, jamais poderia alcançar, qual seja, o sacerdócio, o jovem levita não hesitou e quis ser aquilo que jamais Deus lhe havia destinado a ser.
Muitos querem ser aquilo que Deus não quer que sejam e, muitas vezes, Deus, dentro de Sua vontade permissiva, não intervém, não impede que sejam alcançadas tais funções ou posições. Assim foi, por exemplo, no caso do sacerdócio instituído por Jeroboão. Ao invés de separar os levitas para a função sacerdotal, Jeroboão resolveu estabelecer o seu próprio culto, à sua maneira, fazendo sacerdotes dos mais baixos do povo (
I Rs.12:31). Observemos a psicologia usada por Jeroboão: pegou dos mais incapazes, dos mais incompetentes, dos mais desqualificados e os tornou sacerdotes. Todos estes aceitaram a incumbência porque, obviamente, também sabiam que jamais poderiam alcançar, segundo os ditames da lei divina, esta honraria, mas o que lhes importava não era seguir a Palavra de Deus, mas, sim, ter comodidade, ter posição, “status” e desfrutar das benesses da função que passariam a exercer. Lamentavelmente, muitos Jeroboões têm surgido no meio do povo de Deus, também constituindo ministros entre os mais baixos, os mais desqualificados, pois seu único objetivo é dominar, não ter “concorrentes”, “competidores”, pessoas que, movidas pelo poder e pelas benesses que este poder lhes confere, esquecem-se do chamado divino, menosprezam o objetivo do Senhor nas suas vidas. Não nos deixemos levar pela vaidade, pelas ilusões das riquezas, da posição social, dos benefícios materiais, mas que nosso intento seja o de agradar a Deus, de buscar primeiramente o Seu reino e a sua justiça, sabendo que tudo o mais nos será acrescentado! Mas ao jovem não foi oferecido apenas o sacerdócio, mas também lhe foi ofertada a posição de “pai” (Jz.17:10). Ora, como temos dito seguidamente neste estudo, o jovem levita era proveniente de uma família que estava fora da direção divina, de uma família que, certamente, não oferecia qualquer vantagem ou comodidade ao jovem, a ponto de ele ter saído do lar e iniciado uma peregrinação em busca de bem-estar. Não é desarrazoado dizer, portanto, que o jovem não tinha, a esta altura, uma boa imagem de seu pai e, certamente, vivia um conflito psicológico típico da juventude e da adolescência, a chamada “crise dos pais imperfeitos”, resultante da circunstância de os filhos descobrirem que seus pais não são aqueles seres humanos perfeitos que eles, ao longo da infância, acreditaram eles ser. Como afirma Stephen Kanitz, “… a maioria dos jovens sonha em ter pais perfeitos para sempre, um governo perfeito a cada eleição, em criar um mundo perfeito sem injustiças, onde até os grandes planos de governo funcionam porque serão sempre perfeitos. Essa crise traz também uma enorme insegurança pessoal. A redoma de vidro do pai herói e da mãe heroína se desfaz. Uma crise dessas mal resolvida pode se agravar e se transformar em desilusão, desânimo, o que pode levar à exclusão social e à perda de ambição.…” (A crise dos pais imperfeitos. Veja, ano 37, nº 13, edição 1847, 31 mar.2004, p.20). Este jovem, assim pensando, decepcionado com a figura paterna, é convidado por alguém que tinha a idade de ser seu pai, para ser “pai” da sua casa, ou seja, para exercer uma posição de mando, para ser tudo aquilo que seu pai não tinha sido para ele. Autoridade, poder, posição, em suma era o que se oferecia ao jovem levita, em troca, naturalmente, do total menosprezo à Palavra de Deus, porquanto passaria a ministrar culto a ídolos, algo abominável aos olhos de Deus. Porém, os valores incutidos na mente do jovem não tinham qualquer compromisso com Deus e o jovem, prontamente, aceitou a oferta.
É interessante observar que, embora lhe tenha sido prometido ser “pai” da casa, o texto bíblico diz-nos que o jovem passou a ser tratado como um dos filhos de Mica (
Jz.17:11), o que revela, portanto, como era enganosa a oferta feita por Mica. Ademais, como já vimos neste estudo, o tratamento dado por Mica a seus filhos não era dos melhores, sendo que, do ponto-de-vista espiritual ou moral, era, mesmo, um tratamento desastroso. É sempre assim que acontece quando alguém aceita a oferta do maligno: é enganado e sua condição jamais será a prometida pelo pai da mentira que, quando mente, faz o que lhe é próprio e natural (Jo.8:44). O jovem foi consagrado sacerdote por Mica e ali esteve na sua casa como um ministro ilegítimo de um culto espúrio. A família de Mica estendia, assim, os seus tentáculos malévolos e, agora, não atingira apenas a condição espiritual de seus integrantes, mas já trazia prejuízo espiritual a um levita, a um escolhido de Deus que, por falta de orientação, educação e vigilância, fora atraído por este verdadeiro cancro que se instalara no meio do povo de Deus. Percebamos, portanto, que uma família desmantelada não prejudica apenas os seus membros, mas, como uma verdadeira célula cancerosa, vai formando um tumor no meio social, atingindo aqueles que estão à sua volta, bem como aqueles que com ela entram em contato. Uma família desmantelada é um verdadeiro instrumento destruidor nas mãos do adversário, um veículo de desvirtuamento e de perdição para tantos quantos dela se aproximam e por ela se deixam influenciar. Mas os efeitos funestos da família de Mica não se limitariam a este jovem levita, agora sacerdote na casa de Mica. Na sequência do texto bíblico, no capítulo 18, veremos que este sacerdote, movido sempre pela ganância das coisas materiais, tornar-se-ia sacerdote da tribo de Dã, a primeira tribo a adotar, coletivamente, a idolatria (Jz.18:30,31), algo que talvez até explique porque a tribo de Dã não é mencionada na relação dos 144.000 judeus que pregarão o Evangelho na Grande Tribulação (Ap.7:4-8). Como vemos, portanto, a má educação e a inobservância da Palavra de Deus não se circunscrevem à família, mas seus efeitos se fazem sentir na sociedade como um todo. A desintegração familiar hoje promovida pelo adversário de nossas almas é a causa mais importante para o clima de desordem, de violência, de criminalidade, de desgoverno que vivemos, atualmente, na face da Terra. As famílias não conseguem, mais, porque saíram da direção de Deus, incutir valores e princípios de convivência, solidariedade e harmonia aos seus filhos e as novas gerações crescem e atingem a idade adulta sem quaisquer referências, como presas fáceis das ofertas e facilidades apresentadas pelo deus deste século, cujo objetivo é, tão somente, matar, roubar e destruir. É um verdadeiro perigo haver uma família desmantelada no meio do povo de Deus, como era a família de Mica que, do monte de Efraim, não deixou de promover um grave prejuízo a Israel, trazendo a idolatria e a apostasia para toda uma tribo, a tribo de Dã, que, aliás, nem sequer era a tribo de Mica e sua família, sem se falar na ruptura que fez na tribo de Levi, através daquele jovem que acabou se tornando o primeiro de uma linhagem sacerdotal espúria e ilegítima que perdurou, diz-nos a Bíblia, até a destruição do primeiro templo (Jz.18:30) Não permitamos que nossa família seja uma erva daninha, seja o início de um tumor canceroso no meio do povo de Deus, mas sigamos o modelo bíblico e, assim, certamente, seremos ricamente abençoados pelo Senhor.
AMÉM !

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